#139: O poder da audiência na nova economia

O que streamers de Minecraft podem ensinar ao mercado imobiliário sobre construção de comunidades e geração de valor.

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ABERTURA

O Radar desta semana está no ar e conecta três movimentos distintos:

Youtubers de Minecraft ensinando que o poder na nova economia está na audiência e no senso de pertencimento – e levantando R$ 150M como prova disso.

O Agronegócio mostrando que além de pop, é também real estate.

E as contradições nas manchetes revelando que precisamos olhar além do óbvio para compreender os sinais reais do mercado.

Boa leitura!

Na edição de hoje:

  • 🔎 A mensagem oculta da NG.Cash para o imobiliário

  • 🫛 O Agronegócio, além de pop, é também real estate

  • ♟️ Nosso papel em meio ao conflito de narrativas

  • 🎙️ Você pode ouvir essa edição clicando aqui

FINTECHZAÇÃO

NG.Cash capta R$ 150 milhões — e você mal ouviu falar dela?

A NG.Cash anunciou, na última semana, uma rodada de US$ 26,5 milhões (aproximadamente R$ 150 milhões), liderada pela NEA, gestora americana de venture capital que investiu em empresas como Robinhood e Duolingo.

A NG.Cash é uma fintech criada para ser a plataforma financeira da Geração Z, unindo conta digital, pagamentos e agora crédito, construída sobre comunidade e influência digital.

Já são mais de 7 milhões de usuários, com um volume transacionado superior a R$ 2 bi anualizados — um crescimento de 40 vezes em apenas 12 meses.

Mas por que estamos falando dela hoje?

Tudo começou com audiência

A NG.Cash surgiu com três jovens streamers de Minecraft. Mario Augusto Sá, Victor Trindade (Eagle) e Gabriel Fernandes (Neox) acumulavam milhões de visualizações em seus canais no YouTube desde 2013.

A audiência deles não era casual: formaram uma comunidade fiel e engajada, que acompanhava não apenas jogos, mas também a vida dos criadores.

Em 2020, lançaram o Neagle Bank, um banco digital para a Geração Z, alcançando 160 mil usuários em apenas três meses. Logo, o projeto evoluiu para a NG.Cash.

Eles sentiram a dor, criaram a solução e abriram um novo mercado

Os fundadores da NG.Cash não vieram do mercado financeiro tradicional, mas do universo da audiência e influência digital.

Eles entenderam que os jovens precisavam de um sistema financeiro mais simples, direto e fácil de controlar — e construíram essa solução junto com a comunidade que já confiava neles.

Com a Geração Z amadurecendo, entrar no mercado de crédito tornou-se um movimento lógico e estratégico.

A NG.Cash já conhece o comportamento financeiro desses clientes desde os 13 anos, entendendo suas preferências e hábitos.

É natural esperar que a fintech também esteja presente no financiamento imobiliário do primeiro imóvel desses jovens.

O valor do pertencimento: não é sobre vender, é sobre fazer parte

Esses jovens não seguem a NG.Cash apenas porque gostam do produto; sentem-se parte de um grupo, formando uma identidade financeira própria. É o chamado "Efeito Tribo".

Enquanto isso, observamos outro movimento no mercado imobiliário.

Incorporadoras têm investido cada vez mais em experiências e aticações para destacar seus lançamentos:

Aulas de tênis, passeios de lancha e jantares exclusivos têm sido usados para criar conexão emocional com potenciais compradores.

O foco deixou de ser apenas a planta ou a metragem, passando a ser a venda de um estilo de vida aspiracional.

Oferecendo experiências reais, as construtoras buscam acelerar decisões, aumentar o valor percebido e estimular o sentimento de pertencimento antes mesmo da assinatura do contrato.

Mas é preciso ir além. Como usar isso para criar uma verdadeira comunidade em torno do meu negócio?

Incorporadores podem aprender com a NG.Cash

Oferecer experiências não é exatamente uma inovação. O mercado imobiliário já promove lançamentos criativamente há anos.

No entanto, empreendedores imobiliários podem aprender algo novo com a startup dos jovens do Minecraft, seguindo a essência do seu playbook:

O ponto de partida não foi a venda, mas sim a criação de valor.

Por que isso funciona? A psicologia social explica

Segundo a Teoria da Identidade Social, proposta por Henri Tajfel e John Turner nos anos 70, as pessoas constroem sua autoimagem a partir dos grupos aos quais pertencem.

Pertencer fortalece o senso de identidade. Comprar um produto ou aderir a uma marca passa a ser uma maneira de dizer quem você é ou quem deseja ser.

Por isso, o marketing moderno não é sobre produto, mas sobre papel social.

E as incorporadoras, seguindo essa lição, deveriam vender não apenas imóveis, mas sim "a oportunidade de pertencer a uma comunidade de moradores que compartilham valores comuns em torno de um empreendimento".

Para quem souber explorar há boas oportunidades no que chamo de influencer-led real estate.

REAL ESTATE AS SERVICE

O Agro é pop, é tech e também é real estate

Estamos acostumados a enxergar o agro sob a ótica da produção: toneladas de soja, milho, litros de leite por hectare.

Mas há outro agro — menos visível e mais estratégico — que opera pela lógica da valorização fundiária.

Esse modelo transforma fazendas em ativos imobiliários, colocando empresas agrícolas em posições semelhantes às grandes incorporadoras urbanas.

No Brasil, isso já acontece silenciosamente há anos.

O Radar Pro dessa semana destrinchou o tema, com destaque para alguns cases:

  • BrasilAgro: foco explícito na valorização fundiária, com operações gerando TIR de até 56%.

  • Cresud: holding argentina que combina imóveis comerciais, terras agrícolas e serviços financeiros.

  • LandCo/SLC Agrícola: separação entre operação e ativo, modelo similar ao OpCo/PropCo, com forte valorização fundiária.

A lógica é simples: comprar terra subutilizada, investir em eficiência, gerar caixa com a produção e capturar a valorização patrimonial.

É o agro como real estate — mudando alocação, estratégia e retorno.

Em empresas como BrasilAgro, por exemplo, a valorização das terras foi mais relevante do que a produção agrícola de cana, milho, feijão ou gado.

Para nós, não há dúvidas:

O agro é tech, é pop, é tudo, mas também é metro quadrado.

Acesse a edição completa nesse link.

MERCADO

Quando os sinais parecem contraditórios

Acompanhar as movimentações do mercado imobiliário nem sempre é tarefa fácil.

Muitas vezes, as notícias do dia parecem se contradizer e deixam até os analistas mais atentos em dúvida sobre o que está, de fato, acontecendo.

Nos últimos dias, vi dois exemplos claros disso:

De um lado, uma pesquisa divulgada pelo Valor Econômico mostrou que a nova Faixa 4 do Minha Casa Minha Vida está transformando o mercado.

Isso tem provocado uma migração de vendas diretas das incorporadoras para dentro do programa habitacional.

Segundo a Liquid, até 65% das unidades que antes eram vendidas diretamente já se enquadram no MCMV.

Ou seja, a prática tradicional da venda direta estaria perdendo força, pressionando margens e forçando ajustes no portfólio das empresas.

Por outro lado, outra reportagem do mesmo jornal mostra justamente o movimento inverso:

Incorporadoras e loteadoras retomando práticas antigas de venda direta, financiando o cliente por conta própria e resgatando modelos de comercialização fora do sistema bancário tradicional.

Um retorno ao passado? Ou um sinal de que o mercado está fugindo do MCMV?

A pergunta que fica é: o que está acontecendo de verdade?

Em meio a confusão, algumas direções

Minha primeira dica aqui é: entenda que os sinais do mercado nunca são respostas prontas.

Eles não indicam um caminho único a ser seguido. Apenas revelam as diferentes forças em jogo.

A migração para o Faixa 4 e o retorno à venda direta não é, na prática, uma contradição.

Na verdade, ele retrata as várias rotas que o mercado está construindo simultaneamente para se adaptar a um novo ciclo econômico.

Não é um dilema entre um caminho ou outro, mas a coexistência de estratégias divergentes que servem a propósitos diferentes:

  • O Faixa 4 do MCMV oferece escala, velocidade de vendas e financiamento subsidiado.

  • Enquanto exige adaptação ao modelo formal, com produtos limitados ao valor de R$ 500 mil e regras do programa.

  • Já a venda direta com financiamento próprio atende públicos desbancarizados, compradores informais ou aqueles que buscam soluções flexíveis.

  • Ou seja, muitas vezes em empreendimentos que não se encaixam no MCMV.

O mercado está, na prática, segmentando seus canais e diversificando seus modelos de receita.

É um jogo de multicanalidade:

Quem consegue operar tanto dentro do sistema formal quanto nos espaços paralelos tem mais chances de preservar liquidez e manter o giro.

E o que extrair disso?

A principal lição é que um negócio à prova de futuro deve estar apto para a convivência entre formatos tradicionais e alternativos.

O financiamento via FGTS e Faixa 4 vai coexistir com carteiras próprias, vendas a prazo sem intermediação bancária e produtos fora do MCMV.

Para o investidor, incorporador ou operador, o desafio não é escolher entre uma via ou outra, mas entender o jogo multifacetado que se desenha.

O que os sinais nos mostram não é confusão, mas complexidade. E isso só tende a aumentar.

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