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#135: É o fim da era do "dinheiro fácil" no mercado imobiliário?

Três grandes mudanças no capital, na tecnologia e no produto que definem a nova era do setor imobiliário

Na edição de hoje, conectamos os pontos entre o grande reset em curso no mercado de funding imobiliário, os avanços da robótica na construção civil e as lições estratégicas por trás das casas dobráveis da Boxabl. Três sinais de que o setor está sendo redesenhado – do capital ao canteiro. 

Para alguns, as pautas de hoje podem trazer novidades. Para outros, podem soar como mais do mesmo. Nesse caso é um lembrete claro: se você já entendeu o que está mudando, é fundamental se mexer para poder sair do lugar.

Boa leitura!

ALTERNATIVAS DE FUNDING

É o fim da era do "dinheiro fácil" no mercado imobiliário?

Por muito tempo, o mercado imobiliário brasileiro operou sob o conforto de um funding previsível, barato e, muitas vezes, isento de impostos.

Essa era está com os dias contados – e quem não entender a nova lógica vai ficar pelo caminho.

A nova geopolítica do funding imobiliário

A decisão da Tenda de antecipar uma captação de R$ 300 milhões via CRI, a fim de escapar da futura taxação sobre instrumentos isentos de IR, é um sintoma claro.

Mostra que os empreendedores mais atentos já estão jogando o jogo de 2026, enquanto outros ainda operam com a mentalidade de 2018.

Esse movimento se prova ainda mais estratégico diante do cenário atual. Com a corrida de investidores por títulos como LCI e CRI, os spreads desses papéis caíram ao menor nível desde o início de 2024.

Ou seja, antecipar a captação significa não apenas evitar uma futura mordida fiscal, mas também acessar hoje um capital mais barato.

O movimento acontece no contexto de um triplo aperto:

Do funding como defesa ao funding como ataque

Historicamente, o funding era uma ferramenta de defesa. Hoje, ele se transforma em uma arma de ataque: uma alavanca para capturar retornos assimétricos em produtos alternativos, como detalhamos neste outro conteúdo.

Um exemplo vivo é a captação relâmpago de R$ 10 milhões via crowdfunding para um retrofit com impacto social no centro de São Paulo, conduzido pela Somauma.

Em apenas 24 horas, mais de 600 investidores aportaram capital não apenas em tijolo, mas em um propósito que o mercado institucional ainda hesita em financiar.

Outro caso é o da Hedge Investments, que lançou um ETF focado em FIIs de tijolo para atrair investidores estrangeiros e sofisticados. A iniciativa representa uma tentativa de internacionalizar o funding e diversificar a base de capital, criando um novo canal de acesso ao mercado global.

A verdade é uma só: não falta dinheiro. Faltam projetos bem empacotados como produtos de investimento e distribuídos pelos canais certos.

Banco Central e CVM sinalizam a necessidade de se adaptar

O Banco Central já entendeu que o modelo tradicional não sustenta mais o sistema

A proposta de nova regulamentação para crédito imobiliário com parcelas indexadas à inflação visa dar fôlego a um sistema travado pelo risco de inadimplência e a rigidez dos modelos atuais.

Em paralelo, a CVM também se mexe. Está em andamento uma proposta para ampliar as bordas do crowdfunding, aumentando os limites por oferta e por investidor. 

O objetivo? Viabilizar rodadas maiores e mais estruturadas, que possam financiar não só startups ou frações de empreendimentos, mas também projetos complexos como grandes incorporações e empresas de médio porte. 

É mais uma peça no tabuleiro da reorganização regulatória do funding.

Essa agenda de inovação financeira – ainda incipiente – abre espaço para novos instrumentos, novos investidores e, principalmente, uma nova lógica de análise de risco:

Menos balanço, mais projeto; menos banco, mais estruturação.

O Grande Reset está em andamento

Para quem perdeu o episódio do podcast Crypto Never Sleeps, o ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon, e Andreas Blazoudakis, fundador da Netspaces, explicam como estamos às portas de um "Grande Reset" do sistema financeiro global.

Nesse contexto, ativos como o Bitcoin emergem como proteção – não apenas contra inflação, mas contra a própria instabilidade estatal.

Andreas complementa salientando com outro tipo de reset em curso: a digitalização da maior classe de ativos do mundo, os imóveis.

Através da tokenização, propriedades passam a operar como ativos líquidos e programáveis, acessíveis a investidores em escala global.

Não se trata apenas de inovação – trata-se de sobrevivência e de reposicionamento estratégico frente a um novo ciclo econômico e tecnológico.

A pergunta que resta não é “qual é o melhor instrumento para captar”, mas sim: que tipo de capital você quer atrair para seu projeto?

Num cenário em que a isenção vira exceção e o investidor exige mais do que retorno, só sobrevive quem entende que funding é parte estratégica do produto, não apenas do balanço.

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DIGITALIZAÇÃO

Robôs na obra? Sim. Mas a revolução está em outro lugar

Valter Patriani quer robôs humanoides em suas obras até 2026. 

A declaração é ousada, provocativa e chama atenção para um ponto importante:

A automação está chegando ao canteiro. Mas será mesmo que veremos robôs empilhando tijolos?

A resposta curta: dificilmente.

Mas isso não significa que a robótica não terá papel relevante. Ao contrário, ela será cada vez mais presente, embora não necessariamente da forma como o imaginário coletivo supõe.

A robótica vai avançar, mas o protagonismo será da IA

A aplicação de robôs em nossas vidas deve evoluir, especialmente com a incorporação de inteligência artificial.

É a IA que está desbloqueando novos usos, permitindo que máquinas deixem de ser apenas ferramentas programadas para se tornarem agentes autônomos em ambientes caóticos e dinâmicos – como uma obra.

Espera-se que o mercado de robótica com IA atinja US$ 146 bilhões até 2033.

Isso mostra não só uma tendência, mas uma expectativa concreta de escalada dessa tecnologia nos próximos anos.

Não à toa, os cases estão se multiplicando pelo mundo:

  • A German Bionic desenvolveu exoesqueletos como o Cray X e Apogee+, captando milhões para escalar sua aplicação na construção civil. Fonte

  • A americana AIM levantou US$ 50 milhões para retrofitar tratores e escavadeiras com sistemas autônomos, transformando máquinas tradicionais em equipamentos inteligentes. Fonte

  • No Brasil, estudantes do Instituto Liberato criaram uma solução de automação em pintura de edifícios que conquistou os investidores no Shark Tank. Fonte

Para quem quer aprofundar nas cinco grandes tendências da robótica para 2025, recomendo esse vídeo da Jane Heffner.

Esses exemplos mostram que a inovação está ganhando fôlego – e recursos. Mas o ponto mais importante é outro.

A grande mudança está fora da obra

A imagem do robô substituindo o pedreiro é sedutora, mas limitada. A verdadeira revolução não está na substituição do trabalhador humano dentro do canteiro, e sim na redução do próprio canteiro.

Cada vez mais, partes inteiras da construção estão migrando para fábricas.

Componentes produzidos offsite chegam prontos para montagem – paredes, banheiros, fachadas, shafts e estruturas inteiras. Isso reduz variabilidade, aumenta precisão e melhora o controle de prazos e custos.

O resultado? Menos gente na obra. Não porque foram trocadas por robôs, mas porque a obra, como a conhecemos, está encolhendo.

Esse movimento já é visível em modelos como wood frame, steel frame, pré-moldados e sistemas híbridos. E se conecta diretamente às demandas do mercado por eficiência, escalabilidade e previsibilidade financeira.

O canteiro do futuro não será um canteiro

O uso de robôs, exoesqueletos e máquinas autônomas será parte do processo, mas não o centro dele. O protagonismo estará na transformação industrial da construção, onde a obra se aproxima cada vez mais de uma linha de produção.

No fim das contas, não veremos robôs empilhando tijolos – veremos menos tijolos sendo empilhados.

CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA

O que podemos aprender com as casas dobráveis da Boxabl?

Toda inovação traz consigo um novo tipo de problema.

No caso da construção modular offsite, a promessa de produtividade e escala muitas vezes esbarra em um gargalo logístico: o transporte.

No modelo 3D, onde a casa sai pronta da fábrica, os custos logísticos podem consumir até 15% do valor da unidade – uma mordida que dificulta a escala e corrói a margem.

Levar uma estrutura volumosa por estradas exige licenças específicas, caminhões sob medida e rotas restritas. O que era para ser simples e repetível, vira um desafio de engenharia reversa.

A saída acaba sendo buscar a produção de painéis e realizar a montagem onsite, o que não utiliza de todo o potencial que a modularização teria potencial para agregar.

(Fonte: Divulgação)

É nesse ponto que a Boxabl aposta suas fichas.

A startup americana criou um conceito de casa dobrável que redesenha a equação da construção modular.

Ao reduzir a largura da unidade para caber em um caminhão convencional, a empresa atacou diretamente o custo logístico – e, com isso, abriu novas possibilidades de escala.

Mais do que admirar o case, buscamos entender o que ele ensina.

A proposta não é copiar e colar modelos de fora, mas extrair aprendizados que possam ser aplicados com realismo à nossa realidade – com suas restrições, mas também com oportunidades.

Na Edição Especial do Radar desta semana, exploramos como essa inovação estrutural pode inspirar um novo olhar para o offsite no Brasil. Leia o artigo completo aqui

GRAVAÇÃO

Webinar: Como oferecer personalização sem complexidade: o modelo usado pela MRV

Essa semana, falamos sobre os bastidores dessa transformação com especialistas do mercado. Caso real, aprendizados e o que está funcionando na prática.

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