A liquidez invisível

O que acontece quando o ciclo fica longo demais e o capital precisa "inventar" uma saída

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ABERTURA

Liquidez é sempre um desafio em investimentos privados.

Fundos ficaram mais longos, os juros mais altos e o custo de esperar cresceu.

De forma silenciosa, uma nova engrenagem começou a girar: o mercado secundário. Um esse espaço entre o “comprar” e o “vender”, onde o retorno nasce não da criação de um ativo, mas da troca de mãos entre investidores.

Em 2025 essa engrenagem movimentou bilhões de dólares no venture capital e se traduziu de diferentes maneiras como alternativa também no universo imobiliário.

É a liquidez invisível: não aparece no pipeline, mas redefine o jogo.

No conteúdo de hoje:

  • 🔑 Como a "liquidez invisível" movimentou bilhões e redefiniu as regras do investimento privado

  • ⏳ De que forma o mercado secundário de VC se tornou a "invenção" necessária quando o tempo de saída ficou longo demais

  • 📉 Por que investidores de real estate institucional estão aceitando descontos acima de 30% para liquidar suas posições

  • 💡 Qual a lição crucial sobre dominar o ciclo ao invés de apenas esperar o evento final.

#1

O secundário no Venture Capital: quando o tempo ficou longo demais

No universo das startups, o tempo é o ativo mais escasso.

Nos anos de liquidez abundante, fundos levantavam rodadas em sequência, valuations subiam, e o exit era uma questão de timing.

Mas o mundo pós-2021 trouxe outra realidade: IPOs travados, M&As lentos e empresas privadas envelhecendo sem liquidez.

Foi nesse vácuo que o mercado secundário de venture capital explodiu.

Estudo da Caplight mostra que o mercado secundário de venture capital já representa quase um terço de toda a atividade de VC.

Entre 2020 e 2024, a fatia de transações secundárias passou de 16% para 29% do volume total dos mercados privados de VC.

De forma simples, o mercado secundário permite que participações existentes em startups ou fundos mudem de mãos antes do evento final de saída.

As estratégias usadas no secundário podem se dar de diferentes formas:

Um Limited Partner (cotista de um fundo) que quer liquidez vende sua cota a outro.

Um GP (gestor) monta um novo veículo — um continuation fund — para recomprar ativos promissores do fundo anterior e dar saída parcial aos investidores.

Ou um fundo especializado compra direto participação de fundadores e anjos em empresas já maduras.

De exceção, virou mercado.

Segundo a PitchBook, o volume global de transações secundárias em venture capital ultrapassou US$ 60 bilhões em 2025.

Fundos como Industry Ventures, StepStone e Lexington Partners criaram braços inteiros dedicados a esse tipo de transação.

A lógica é simples: quando o tempo de saída ficou longo demais, a liquidez precisou ser inventada.

Para quem sai, é a oportunidade de realizar um resultado imediato, para quem entra a oportunidade de participar de empresas já provadas e comprando com desconto.

#2

Dados e IA são as preferidas, mas não a maioria

Os números mostram que as empresas de Dados e Inteligência Artificial representam 34% do volume total de transações fechadas em 2025, uma participação relevante, mas ainda minoritária dentro do mercado secundário.

Mesmo assim, quando ocorrem negociações envolvendo companhias de IA, o movimento é intenso: os compradores estão pagando prêmios expressivos para garantir participação nessas empresas.

Ativos como OpenAI e Groq chegaram a ser negociados a 100% e 76% de valorização, respectivamente, em relação ao preço da última rodada primária — sinal de forte competição por papéis de empresas consideradas estratégicas.

Nesse movimento, o mercado está concentrado em três temas:

  1. Setores quentes (como IA e infraestrutura de dados),

  2. Empresas próximas de IPO,

  3. Companhias que realizaram rodadas primárias recentes.

Em resumo: a IA ainda não domina o volume, mas dita o ritmo — onde há perspectiva de disrupção, há liquidez disposta a pagar caro para entrar.

#3

O mercado secundário no Real Estate também tem sua função

No universo imobiliário institucional, o movimento é mais antigo — mas vive um novo ciclo.

Relatórios recentes mostram o mesmo padrão de crescimento nas transações secundárias em fundos de real estate privado guiados por motivações parecidas.

Estudo recente da Cornell University aponta que pela primeira vez desde 2013, investidores reduziram suas metas de alocação no setor — de 10,9% para 10,7% — reflexo da combinação entre juros altos, baixa liquidez e retornos abaixo da meta histórica de 8,4%.

Com o fluxo de caixa comprimido e distribuições em mínimas de uma década, muitos fundos passaram a recorrer ao mercado secundário como principal via de liquidez, ainda que aceitando descontos médios acima de 30% sobre o valor patrimonial. 

Esse movimento transformou o secundário em um termômetro da confiança institucional, evidenciando que o ciclo atual é de reprecificação e redistribuição de capital, em que investidores migram gradualmente para ativos temáticos e mais líquidos — como data centers, logística e multifamily — enquanto o setor busca um novo equilíbrio.

#4

Os paralelos entre Venture Capital e Real Estate

No venture capital, o secundário foi resposta à falta de saídas.

No real estate, é resposta à falta de crédito e à rigidez de estruturas longas.

Em um, o problema era o tempo; no outro, o custo do tempo.

No venture, o investidor secundário paga um prêmio para capturar o upside futuro de empresas ainda em crescimento; ele compra expectativa.

Já no real estate, o comprador exige um desconto sobre o valor atual do ativo, buscando proteger o downside diante de riscos macro, vacância ou reprecificação.

Mas em ambos, o que se buscou foi controle sobre o ciclo.

O investidor que entende isso percebe que não é mais sobre esperar o evento final, mas sobre dominar o meio do caminho.

Liquidez virou uma competência, não um acaso.

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