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#140: Case da MRV, dilema no crédito e robôs (de novo) no canteiro

Como a expansão do home equity desafia o mercado, o que a Resia (MRV) nos ensina sobre multifamily e por que a automação no canteiro de obras é um caminho sem volta.

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ABERTURA

O mercado imobiliário vive um paradoxo.

Com a Caixa finalmente entrando no jogo do crédito com garantia sobre imóveis já financiados, um potencial de R$ 500 bilhões em home equity parece mais próximo.

A questão é o timing, uma vez que essa liquidez chega no momento em que o endividamento e a inadimplência imobiliária batem recordes.

Um desafio que envolve saber equilibrar a balança entre oportunidade e risco. Mas hoje não falaremos só disso.

Iremos também dissecar a aula que a Resia (MRV) nos deu sobre timing e estratégia de capital no mercado de multifamily.

E fechamos compartilhando mais um case de como robôs já estão, de forma prática, redesenhando a produtividade no canteiro de obras.

Boa leitura!

Na edição de hoje:

  • 🏦 O que a nova linha da Caixa significa para o setor

  • 🎓 A Lição da Resia (MRV) sobre timing, capital e estratégia

  • 🤖 O investimento da Bedrock Robotics e o futuro do canteiro

  • 🎙️ Você pode ouvir essa edição clicando aqui

CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Caixa libera crédito com imóveis financiados como garantia: problema ou oportunidade?

A Caixa Econômica Federal lançou uma nova linha de crédito que permite a contratação de home equity mesmo com imóveis ainda financiados pela própria instituição

A medida, viabilizada pelo Marco das Garantias, sancionado no fim de 2023 e regulamentado ano passado, amplia o acesso ao crédito com garantia imobiliária

Agora, clientes podem usar a parte quitada de um financiamento em andamento como lastro para um novo empréstimo de livre utilização, com taxas mais baixas e prazos longos. 

Outros bancos já haviam se antecipado:

O Santander, em julho de 2024, lançou a linha Use Casa Mais;

O Banco do Brasil, no início de 2025, passou a aceitar imóveis já alienados fiduciariamente como garantia;

E o Itaú, também no primeiro trimestre de 2025, passou a liberar crédito adicional sobre contratos de financiamento ou home equity anteriores.

Com esse movimento, o mercado imobiliário ganha uma nova ferramenta de liquidez para pessoas físicas. 

Mas atenção, porque toda inovação carrega dois lados: as possibilidades e os riscos

O tamanho da oportunidade

O mercado de home equity no Brasil é ainda incipiente, mas cresce de forma acelerada.

Em 2024, as contratações de empréstimos com garantia imobiliária superaram R$ 10,9 bilhões, uma alta de 53,5% em relação a 2023. O estoque dessa modalidade dobra a cada cinco anos e deve dobrar novamente até 2027.

O Banco Central indica que o potencial total do home equity no Brasil pode alcançar R$ 500 bilhões se o país adotar práticas semelhantes às de mercados mais maduros.

Além disso, o número de imóveis financiados no país é elevado.

Em 2024, foram contratadas cerca de 568 mil unidades via SBPE, o segundo maior volume da história. No acumulado até janeiro de 2025, esse número ultrapassa 578 mil unidades. Esses imóveis, agora, passam a poder ser usados como garantia adicional para crédito.

Entre jan/2023 e

mai/2025, o número de contratos cresceu cerca de 29%, passando de 112 mil para 144,4 mil.

No mesmo intervalo, o saldo em carteira aumentou aproximadamente 58%, saindo de R$ 16,8 bi para R$ 26,5 bi.

Essa mudança regulatória abre novas portas para as famílias e para o mercado, trazendo múltiplas possibilidades concretas:

  • Reformas e ampliações residenciais. O consumidor pode transformar parte do patrimônio em crédito para melhorar ou expandir o imóvel.

  • Consolidação de dívidas. Substituir dívidas caras, como cartão de crédito e cheque especial, por uma linha de juros mais baixa, com o imóvel como garantia.

  • Capital de giro para pequenos negócios. Micro e pequenos empresários podem recorrer ao home equity como alternativa de funding.

  • Pagamento da entrada de um novo imóvel com o home equity de outro. Isso pode destravar vendas na planta e acelerar negócios.

  • Produtos financeiros mais flexíveis. Ter produtos financeiros que permitem o acesso ao crédito com imóvel em garantia, conforme a necessidade.

Um bom exemplo de produto com flexibilidade é o HELOC (Home Equity Line of Credit) — linha de crédito rotativa com garantia imobiliária, permite saques conforme a necessidade e cobrança de juros apenas sobre o valor utilizado. 

A ZiliCred é uma fintech que soube aproveitar isso quando lançou um modelo de HELOC já compatível com o novo marco regulatório há dois anos. 

A empresa oferece uma jornada digital simplificada, com foco em flexibilidade e acesso progressivo ao crédito, sinalizando um novo capítulo no uso do patrimônio como instrumento financeiro inteligente e acessível.

O pano de fundo: endividamento e risco sistêmico

Apesar das oportunidades, o cenário atual exige cautela. O Brasil vive um momento de endividamento recorde: 70 milhões de famílias endividadas.

Além disso, a inadimplência no crédito imobiliário atingiu o maior nível da série histórica; e o mercado de CRIs já dá sinais de estresse – o que pressiona os custos e a segurança dos instrumentos de securitização.

Diante desse cenário de inadimplência crescente, os gestores de fundos imobiliários começaram a buscar alternativas para evitar perdas nos CRIs:

  • Estão alongando prazos, renegociando garantias e, em alguns casos, promovendo a substituição dos ativos originais por novos recebíveis.

  • Ex: locações, vendas futuras ou até mesmo transformando parte da dívida em participação no empreendimento. 

Essas movimentações mostram que o mercado já atua em modo defensivo, criando soluções criativas para evitar calotes formais e preservar o ecossistema do crédito estruturado.

Crédito responsável é prioridade

A inovação regulatória amplia as possibilidades de funding e liquidez para o setor imobiliário. Mas é preciso ter clareza: o crédito é uma alavanca poderosa, tanto para crescimento quanto para crise.

  • Incorporadoras precisam estruturar produtos com responsabilidade, evitando sobrealavancagem dos clientes.

  • As famílias devem entender os riscos e benefícios antes de transformar patrimônio em capital líquido.

  • O mercado financeiro precisa monitorar a saúde dos CRIs e de outros instrumentos de securitização para evitar um efeito dominó.

A pergunta não é se o mercado pode usar esse novo instrumento. Mas sim: até onde conseguimos sustentar essa alavancagem sem comprometer a estabilidade do sistema?

Maior disponibilidade de crédito só se sustenta se tiver um acompanhamento de crescimento na renda.

MODELOS DE NEGÓCIO

O que MRV nos ensina sobre desafios e oportunidades em multifamily

No mercado de multifamily, construir, alugar e vender parece uma receita previsível de sucesso.

Mas a trajetória da Resia, controlada pela MRV, mostra que essa lógica pode virar uma armadilha quando o cenário macroeconômico muda. 

Ao longo dos anos, a empresa saiu do modelo tradicional de build & hold para um ciclo acelerado de build-to-rent & sell

O problema? Com a alta dos juros e o aumento dos custos de construção, o cap rate do mercado superou o Yield on Cost da empresa, criando um cenário de perda de valor nos ativos recém-construídos.

A saída da Resia foi uma mudança radical: virar uma desenvolvedora asset light, operando com capital de terceiros e apostando na construção offsite para reduzir custos e prazos. 

Mais do que uma jogada tática, essa virada revela um movimento estratégico importante:

Migrar de um modelo de incorporadora tradicional para uma operação focada em fees e participação nos resultados, alavancando menos o próprio balanço.

A lição para o mercado brasileiro de multifamily: crescer exige inteligência na estrutura de capital, timing de ciclo e eficiência na execução. Sem isso, o risco de escalar o modelo errado é real.

Quer destrinchar os números, entender os detalhes da estratégia e ver o que isso significa para o mercado? Confira a edição especial da semana aqui.

DIGITALIZAÇÃO DO CANTEIRO

Bedrock Robotics capta US$ 80M combinando IA e robótica

O setor de construção vive um momento de transição. Se, por décadas, o canteiro de obras permaneceu praticamente inalterado, o cenário atual mostra sinais claros de mudança.

A recente rodada de US$ 80 milhões captada pela Bedrock Robotics é mais um indicador dessa transformação.

A Bedrock Robotics desenvolve sistemas de automação para tarefas repetitivas e perigosas no canteiro de obras, como perfuração e demolição.

Em vez de substituir completamente os equipamentos, a empresa aposta no retrofit de equipamentos: transforma máquinas existentes em sistemas semi-autônomos com sensores e IA

A startup foi fundada por um time de ex-engenheiros da Boston Dynamics e da Built Robotics, unindo experiência prática em robótica de campo e conhecimento profundo do setor de construção pesado.

Essa abordagem reduz a barreira de adoção para construtoras tradicionais, acelerando a automação no setor.

Essa tendência conversa diretamente com os dados do mercado de AEC-Tech divulgados no último trimestre:

  • US$ 509 milhões foram investidos em startups de construção no Q2 de 2025, totalizando US$ 37 bilhões de funding acumulado ao longo dos últimos quinze anos.

  • A categoria de Core Construction, que inclui automação e robótica, foi uma das mais relevantes nas maiores rodadas do trimestre.

A escassez global de trabalhadores especializados e o aumento da pressão por produtividade criam um ambiente propício para robôs de construção.

Enquanto setores como o financeiro e o de software avançaram na digitalização, a construção ainda opera em modelos altamente manuais, com margens apertadas e alta exposição a riscos.

A aposta de investidores em empresas como Bedrock Robotics reflete uma visão importante:

A de que a próxima grande revolução da produtividade no setor virá da automação de campo — e não apenas do software de gestão ou da cadeia de suprimentos.

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