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Requalificação do centro e uma prefeitura que pensa como developer

Lições de Las Vegas sobre risco público, alavancagem privada e construção de valor urbano

O que aconteceria se, em vez de apenas “liberar alvará”, o setor público liderasse o desenvolvimento do território com o mesmo pragmatismo – e ambição – de um incorporador?

Ontem tivemos a oportunidade de visitar a Redevelopment Agency of Las Vegas (RDA).

O órgão é responsável por estruturar projetos de revitalização urbana que articulam capital público e privado para transformar áreas degradadas em novos polos de desenvolvimento econômico e social.

Las Vegas está testando essa ideia há mais de uma década. 

De forma silenciosa, mas consistente, suas agências de revitalização vêm demonstrando que o Estado pode (e deve) assumir um papel mais ativo no ciclo de valorização urbana – não apenas como regulador, mas como estrategista de solo.

Na edição de hoje:

  • 🏛️ E se a prefeitura da sua cidade agisse como uma incorporadora imobiliária?

  • 🏞️ Symphony Park: como um antigo pátio ferroviário virou o novo bairro-modelo de Las Vegas

  • ⚠️ O paradoxo da revitalização: quando o sucesso de um projeto expulsa os moradores originais

  • 🇧🇷 As lições de Las Vegas para a requalificação dos centros urbanos no Brasil

  • 🔑 A peça-chave para o sucesso: um agente público com espírito empreendedor e pró-negócio

#1

Quando o poder público assume o papel de developer

O centro da tese não está em estatizar o mercado, mas em reconhecer que desenvolver território é uma tarefa de interesse coletivo

Em áreas degradadas, subutilizadas ou com risco percebido alto, o investimento simplesmente não vem. É aí que entra a figura de um "developer público".

Las Vegas criou um sistema de agências (como a LVRDA) com um mandato claro: estruturar o investimento imobiliário em regiões onde o mercado não atuaria espontaneamente, ancorando-se em um instrumento central – o Tax Increment Financing (TIF).

Como funciona o TIF

O Tax Increment Financing (TIF) é uma ferramenta de financiamento em que a valorização futura do território – medida pelo aumento no imposto sobre a propriedade (como o IPTU no Brasil) – é parcialmente captada pelo poder público para reinvestimento local.

A lógica é a seguinte:

  1. Uma área degradada é designada como zona de revitalização

  2. Um projeto estruturante é desenvolvido ali (ex: novo bairro, retrofit, centro cultural)

  3. O projeto deve estimar o impacto na economia local e valorização esperada

  4. Isso aumenta o valor dos imóveis e a arrecadação de impostos na região

  5. Uma fração desse aumento por um período definido é destinada à RDA – agência responsável pela revitalização – para custear:

    • infraestrutura

    • incentivos a novos empreendimentos

    • programas de melhoria habitacional

    • planejamento urbano contínuo

Fazendo uma conta simples para tangibilizar:

Situação antes do projeto:

Arrecadação de imposto na área: R$ 1.000.000/ano

Após desenvolvimento:

Nova arrecadação anual: R$ 3.000.000/ano

Incremento gerado: R$ 2.000.000/ano

TIF aplicado:

20% do incremento (R$ 400.000/ano) vai para a RDA

Prazo de captura: 10 anos

Resultado:

A RDA passa a ter R$ 400 mil/ano de orçamento adicional por 10 anos, totalizando R$ 4.000.000 disponíveis para reinvestimento naquela mesma área.

Esse recurso pode ser usado para:

  • Implementar parques, iluminação, drenagem

  • Oferecer subsídios à reabilitação de edifícios antigos

  • Financiar estudos de vocação urbana e projetos de design urbano

  • Criar programas de habitação acessível ou incentivo a multifamily

O que esse modelo permite?

  • Sustentabilidade orçamentária da agência de revitalização (sem depender do orçamento geral da cidade)

  • Reinvestimento contínuo no território, criando um ciclo de valorização positiva

  • Atratividade para o investidor privado, que vê o poder público como parceiro ativo e com skin in the game

Esse mecanismo permite usar a valorização futura de um projeto para financiar seu desenvolvimento atual. Sem subsídio direto. Sem desvio orçamentário. Sem dependência política.

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