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#147: Não se deixe enganar pela taxa de juros
O desafio de captar, a maturidade do ecossistema e o multifamily. Um novo ciclo imobiliário avança.

ABERTURA
Enquanto aguardo o embarque para o Terracotta Offsite Las Vegas, que acontece na próxima semana, compartilho aqui mais uma edição do Radar Terracotta.
Como de costume, trazendo as colisões entre funding, tech e inovações em modelos de negócio no mercado imobiliário.
Boa leitura!
Na edição de hoje:
🧮 Taxa de juros mais alta pode ser a melhor opção para o seu projeto
🏦 Como uma proptech quase quebrou um dos maiores bancos do mundo
🫧 Studios: estamos diante de uma bolha ou de um refluxo natural?
🎙️ Você também pode escutar essa edição clicando aqui
#1
Quando a taxa importa menos que as condições
É muito comum ouvir de empreendedores a reclamação:
“essa taxa está cara”.
Na maioria das vezes, a análise para por aí. O negócio não avança, porque a taxa de juros se torna o único critério de decisão.
O problema é que a taxa é apenas um dos componentes do financiamento.
Na aula inaugural do Bootcamp Executivo de Funding Imobiliário, ficou evidente a necessidade de ir além da taxa de juros e avaliar a estrutura completa de funding – prazos, repasses, garantias e equilíbrio entre dívida e equity. Clique aqui para assistir a gravação
Olhar só para ela pode levar a decisões ruins e até a descartar oportunidades que, no final, seriam mais vantajosas para o projeto.
O que o empreendedor deveria sempre fazer é a conta completa.
Entender o impacto real da estrutura de funding no economics do empreendimento.
E não apenas na taxa de juros anunciada.
O óbvio que às vezes precisa ser dito (e calculado).
Um exemplo prático
Imagine um projeto de R$ 50 milhões de custo de obra. O empreendedor tem duas alternativas de financiamento:
Opção A
Taxa de 20% a.a.
Cobertura de 70% do custo da obra
Repasse apenas quando 90% da obra estiver concluída (mês 27 de um ciclo de 30 meses)
Opção B
Taxa de 24% a.a.
Cobertura de 80% do custo da obra
Repasse mais ágil, já quando 70% da obra estiver pronta (mês 21)
A diferença em cada caso precisa ser coberta com equity preferencial a um custo de 25% a.a..
Fazendo as contas
Usando uma curva de desembolso típica de obra (10/20/40/20/10) e aplicando juros apenas sobre o saldo sacado, o resultado fica:
Opção A – 20% a.a. (70% funding | repasse m27)
Principal dívida: R$ 33,3M
Equity adicional: R$ 14,3M
Juros da dívida: R$ 6,7M
Custo do equity: R$ 3,5M
Custo total (obra + juros): ~R$ 60,3M
Opção B – 24% a.a. (80% funding | repasse m24)
Principal dívida: R$ 36,0M
Equity adicional: R$ 9,0M
Juros da dívida: R$ 7,1M
Custo do equity: R$ 1,8M
Custo total (obra + juros): ~R$ 58,9M
O que isso mostra
Mesmo com a taxa mais alta (24% vs. 20%), a Opção B é mais eficiente:
Exige menos equity (R$ 9M contra R$ 14,3M).
Antecipação do repasse (mês 24 vs. 27) reduz a exposição ao custo financeiro.
O custo final do projeto fica R$ 1,4M mais barato.

Ou seja: a taxa de juros isolada engana.
O que pesa mesmo é a estrutura de funding, o cronograma de repasse e o equilíbrio entre dívida e equity, sem contar as condições das garantias.
Cada vez mais é preciso conhecer as alternativas de funding. Antes de rejeitar uma alternativa de crédito porque “a taxa está cara”, faça a conta completa.
Compare:
Qual percentual do projeto será financiado?
Em que momento o repasse do cliente começa?
Quanto de equity adicional será necessário e a que custo?
Qual eficiência do banco para fazer o repasse?
O empreendedor pode se surpreender ao perceber que o financiamento “mais caro” é justamente o que pode trazer o melhor resultado econômico para o projeto.
Se você quer entender como montar seu capital stack, encontrar alternativas de funding e sair com um plano completo para levar seus projetos a investidores, conheça conheça nossa formação. Clique aqui para saber mais
#2
Bilt: a startup que transformou aluguel em ativo (e quase quebrou um banco)
O maior custo da vida urbana nunca gerou benefício. Até agora.
Nos EUA, mais de 100 milhões de pessoas pagam aluguel, uma despesa que consome até 40% da renda, mas não constrói patrimônio nem histórico de crédito.
A Bilt Rewards nasceu para corrigir essa distorção.

A proposta era simples: permitir que o aluguel, pago com seu cartão de crédito, acumulasse pontos para viagens, cashback ou até mesmo para a entrada da casa própria.
O que começou como uma ideia virou uma plataforma de US$ 10 bilhões que conecta imóveis, bancos e consumo em um único ecossistema.
A estratégia: alicerces antes do produto
Diferente da maioria das fintechs, a Bilt começou pelos parceiros.
Antes de lançar o cartão, fechou acordos com gigantes do setor imobiliário americano, como Blackstone e Equity Residential.
A startup garantiu base de usuários, volume e credibilidade antes mesmo da primeira fatura ser emitida.
O modelo: bom demais para ser verdade?
O coração do negócio era o Bilt Mastercard.
Seu grande diferencial: o cliente podia pagar o aluguel no cartão de crédito sem a taxa de transação de 3%, algo inédito no mercado.
A Bilt bancava esse custo como uma forma agressiva de aquisição, esperando monetizar com o uso do cartão em outras categorias. A estratégia funcionou — até demais.
A empresa atingiu EBITDA positivo em 2023 e viu seu valuation explodir.
Mas havia uma fragilidade no modelo.
A matemática que afastou o banco
Em julho de 2025, o banco emissor do cartão, Wells Fargo, rompeu a parceria.
O motivo? Prejuízos de até US$ 10 milhões por mês.
A receita de um emissor de cartão vem de três fontes principais: taxas de intercâmbio, juros do rotativo e anuidades. O modelo da Bilt quebrou a lógica em todas elas.
Intercâmbio: As transações de aluguel tinham margem mínima, e a taxa principal foi zerada
Rotativo: Os usuários eram disciplinados e pagavam 100% da fatura. Sem juros para o banco
Taxas: O cartão não tinha anuidade
A Bilt atraiu clientes com um comportamento impecável para o usuário, mas desastroso para o emissor. Era um produto otimizado para acumular pontos, não para gerar lucro ao parceiro financeiro.
No Brasil, será que faria sentido?
A tese é poderosa e as dores são parecidas por aqui.
Um modelo à la Bilt poderia usar o aluguel como porta de entrada para o sistema financeiro e servir como motor de fidelização.
Mas é preciso tomar cuidado. Se quiser saber mais, leia a edição especial dessa semana clicando no link abaixo:
Acesse o Radar Pro completo dessa semana sobre a Bilt clicando aqui.
#3
Bolha no segmento de studios? Ou só mais um refluxo Imobiliário?
O termo “bolha” é muito sedutor. Carregado de alerta, ele domina as conversas quando um ativo se populariza rápido demais. Mas no mercado imobiliário, a história é diferente.
Na teoria, uma bolha é o descolamento entre o preço e o fundamento de valor. É quando a narrativa supera a racionalidade, e a confiança se esgota em um colapso abrupto.

Isso funciona para ativos líquidos.
Mas no real estate, o ajuste raramente acontece em explosões. Ele vem em forma de desaquecimento e saturação. Um refluxo.
A lição que o mercado já nos deu veio com os flats no fim dos anos 90.
Promessas de alta rentabilidade levaram a uma onda de lançamentos, mas o que se viu foi baixa ocupação e queda nos valores.
Não foi um colapso, mas um longo ciclo de reestruturação.
Agora, os holofotes estão nos studios.
Entre 2016 e 2024, a oferta anual saltou de 7 mil para mais de 52 mil unidades.
O metro quadrado em bairros nobres ultrapassa R$ 25.500.
O discurso de venda é sempre o mesmo: "alta liquidez", "aluguel garantido".
Mas quem comprou na planta e recebeu as chaves agora percebe que a competição pressiona os aluguéis e a vacância cresce.
O ponto central é a mudança na demanda.
A maioria dos studios foi projetada para o short stay, com precificação de diária hoteleira. Mas esse segmento está saturado.
Enquanto isso, a demanda por long stay — moradia flexível de média e longa duração — acelera, impulsionada por novos estilos de vida.
Os números mostram essa inversão:
Analisando dados de São Paulo, vemos que em 2022 o cap rate líquido de um studio era de 15,1% a.a. no short stay e 6% a.a. no long stay.
Em 2025, essa relação se inverteu: o long stay passou a entregar 7,3% a.a., enquanto o short stay recuou para 6,7% a.a..
O estúdio comprado para girar como “mini-hotel” precisa migrar para o modelo de moradia para preservar valor.
Isso significa que o mercado não vai estourar. Mas vai recuar.
O excesso de oferta pressionará os preços para baixo.
Um imóvel hoje avaliado em R$ 415 mil pode sofrer uma correção de 15% a 30%, se alinhando ao seu valor real de geração de renda.
O studio não é uma bolha. É um ativo real que entrou em um ciclo natural de refluxo.
E para o investidor, o momento exige perguntas mais sofisticadas.
Falei mais sobre isso na edição desta semana do Investor Track. Clique aqui para ler.
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