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Skin in the Game: E se o risco real não for o dinheiro?
O que importa não é o quanto você coloca, mas o quanto você pode perder

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ABERTURA
No mundo dos investimentos, pouca coisa causa tanto desconforto quanto a percepção de que alguém está “ganhando sem arriscar”.
Adotada por Warren Buffett nos anos 1980 e transformada em filosofia por Nassim Taleb décadas depois, a expressão skin in the game surgiu em Wall Street como um lembrete simples:
Só merece confiança quem arrisca a própria pele nas decisões que toma.
É por isso que a ideia de skin in the game – colocar a própria pele em risco – virou quase um dogma.
Com o tempo isso se transformou na exigência de ver o empreendedor ou sua empresa aportar capital em uma operação.
Mas será que essa lógica está sendo aplicada da forma certa?

No conteúdo de hoje:
💡 O lembrete de Wall Street que pode estar sendo aplicado de forma errada
📉 Existe um ponto a partir do qual mais exposição do gestor ao risco diminui os retornos do fundo de investimento?
🔑 As três perguntas essenciais que ajudam a identificar o risco real retido e que vão além da planilha financeira
📜 O que o mercado ainda valoriza e qual a métrica que realmente indica o comprometimento que melhora o resultado
#1
Há sinalizações positivas
Para corrigir distorções, após a crise de 2008, a União Europeia implementou uma regra obrigando originadores, patrocinadores ou estruturadores de operações securitizadas a manter pelo menos 5% de exposição real ao risco.
A lógica era simples: quem estrutura uma operação precisa permanecer parcialmente exposto aos prejuízos potenciais – não pode repassar 100% do risco e lucrar apenas na originação.
Análises posteriores, como a de Hibbeln & Osterkamp (2019), confirmaram a eficácia da medida:
Ao estudar mais de 21 milhões de contratos hipotecários securitizados, os autores constataram que operações com retenção obrigatória apresentaram menos inadimplência, menores atrasos e perdas totais significativamente reduzidas.
O skin in the game que gera loss aversion
O estudo de Brown & Volckmann (2024): ao analisar 1.503 fundos de VC e PE, eles descobriram que aumentar o GP commit de 2% para 10% eleva o IRR médio em 1,5 p.p. – mas acima de 13%, o efeito se inverte.
O excesso de exposição faz o gestor evitar riscos que seriam saudáveis para o portfólio.
Conclusão: existe um ponto ótimo de exposição. Mais skin in the game não significa necessariamente mais retorno.
#2
O comprometimento mais relevante nem sempre é financeiro
A literatura mostra que essa lógica nem sempre é interpretada da forma correta e ainda quando aplicada sem critério, gera distorções.
Estudos como o de Frid, Wyman & Brush (2015) – com mais de 1.200 empreendedores – mostram uma ótica diferente para o skin in the game. O valor absoluto aportado pelo fundador não teve qualquer correlação com sucesso.
O que teve foi a proporção da renda ou do patrimônio pessoal envolvida.
Em outras palavras: um fundador que investe R$ 100 mil pode estar mais comprometido do que outro que investe R$ 1 milhão – se isso representa, respectivamente, 80% versus 5% de seu patrimônio líquido.
Essa lógica vale também para incorporadores.
Um menor percentual do equity em projeto que tem uma empresa de pequeno porte vale mais do que 100% do equity colocado por uma grande construtora onde as decisões são tomadas por executivos que nem mesmo são os donos do dinheiro.

#3
O que realmente importa para o investidor?
Ao avaliar um projeto – seja uma startup, um CRI ou um projeto imobiliário – a pergunta relevante deveria deixar de ser:
“Quanto dinheiro essa pessoa colocou?”
E passar a ser:
“Quanto da vida dessa pessoa está amarrada ao sucesso da tese?”
Em outras palavras:
Qual a proporção do patrimônio em risco?
Essa pessoa tem reputação a zelar no setor?
Existe alternativa profissional caso esse projeto falhe?
O retorno é simbólico ou transformador?
Essas perguntas ajudam a identificar o risco retido real – que vai muito além do boleto da rodada ou da planilha de estruturação.
#4
Skin in the game é sobre assimetria, não sobre cifra
Ao longo da minha jornada aprendi que o melhor skin in the game é o boleto que alguém tem a pagar.
O mercado segue valorizando o “quanto colocou”. Mas o que deveria importar é o “quanto pode perder se tudo der errado”.
E essa resposta raramente está nos documentos financeiros. Está na biografia do empreendedor, na reputação do gestor, na ausência de plano B.
E é aí que mora o verdadeiro skin in the game – aquele que, de fato, melhora o resultado.

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