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#141: O Imóvel em Movimento
Do retrofit à fintechzação, passando pela co-propriedade: como a nova lógica do fluxo está transformando o mercado imobiliário.

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ABERTURA
Bom dia,
Nova York está trocando escritórios vazios por moradia, construtoras estão virando fintechs (ou sendo usado por elas), e milionários preferem ter 1/8 de uma casa de luxo do que 100% de uma que não usam.
O que conecta tudo isso? Uma mesma tese: imóveis deixando de ser produto estático para se tornarem plataformas dinâmicas — de moradia, de serviço, de capital.
Nesta edição, mostramos como a reconversão urbana virou política de Estado nos EUA, como o embedded finance explora fluxos de trabalho, e como a co-propriedade segue expandindo mundo à fora.
Quem enxergar imóvel apenas como “ativo fixo”, vai perder para quem entender que o valor real está... no fluxo.
Boa leitura!
Na edição de hoje:
🏙️ Nova York ensina sobre retrofit e habitação acessível
🏦 Embedded finance: como construtoras podem virar protagonistas do crédito
🏡 Vivla, Fractal, Prello e a nova lógica da co-propriedade de imóveis de luxo
🎙️ Você pode ouvir essa edição clicando aqui
RETROFIT
O Que Nova York Nos Ensina Sobre Como Combater o Déficit Habitacional
Nos acostumamos a associar Nova York com excesso — de prédios, de gente, de capital. Mas hoje, a cidade que nunca dorme vive um paradoxo: tem imóveis demais, mas moradia de menos. A resposta da Big Apple? Um plano de reconversão urbana em larga escala que pode servir de bússola para cidades brasileiras.
From office-to-resi
Desde a pandemia, o movimento “from office-to-resi” — a conversão de edifícios comerciais para residenciais — ganhou força nos Estados Unidos, em especial nas grandes metrópoles onde a vacância de escritórios cresceu e a demanda por moradia segue pressionada.
É verdade que assim como em SP, houve uma recuperação na taxa de vacância em lajes corporativas, mas isso restrito a prédios de primeiro padrão, e não em edificações mais antigas e de padrão mais baixo.

Nova York, talvez o epicentro dessa transformação, carrega hoje um déficit habitacional estrutural, com aluguéis em níveis recordes e um estoque residencial defasado em relação ao crescimento da população.
Diante desse cenário, a cidade aprovou em 2024 uma nova política: o 467-m Incentive.
O que é o 467-m?
É um programa de isenção do property tax (o equivalente ao IPTU no Brasil) por até 37 anos para empreendimentos residenciais novos ou convertidos, desde que cumpram contrapartidas sociais bem definidas. Trata-se de uma das políticas mais ambiciosas da última década no mercado imobiliário americano — e um claro indicativo de que a equação “viabilidade + impacto” está no centro da agenda pública.
A estimativa é Nova York pode ganhar 17.400 novas unidades residenciais com a conversão de 44 edifícios de escritórios em habitação, absorvendo mais de um terço da vacância de escritórios surgida durante a pandemia e abrindo mão de US$ 5bi em arrecadação.
Mas há uma condição: 20% de unidades permanentemente acessíveis
Para acessar o benefício, o incorporador precisa destinar ao menos 20% das unidades para famílias com renda de até 80% da renda média da região.
Essas unidades são consideradas affordable housing e devem manter esse status de forma vitalícia — ou seja, não podem ser convertidas para o mercado livre mesmo após o fim do benefício.
É um modelo de troca claro: o Estado abre mão de arrecadação, e o mercado entrega impacto social estruturante.
Por que isso importa?
Porque o property tax em NYC representa até 10% do valor de mercado do imóvel em custos acumulados ao longo de uma década. Eliminar esse imposto pode significar a diferença entre um projeto inviável e um multifamily financeiramente robusto — principalmente num cenário de juros altos e custos de construção pressionados.
O gráfico elaborado nesse artigo do CRE Daily ilustra o racional econômico por trás da decisão de renovar um edifício de escritórios ou convertê-lo em residencial, sob o impacto do incentivo fiscal 467-m.
A linha azul representa a fronteira de viabilidade: combinações de aluguel por pé quadrado e taxa de ocupação que ainda tornam a renovação como escritório financeiramente justificável.

Abaixo dessa linha, os retornos projetados já não sustentam a operação como office, tornando a conversão para uso residencial — agora isenta de property tax por até 37 anos — mais vantajosa economicamente.
O ponto destacado do 3rd Ave. Corridor mostra um caso real em que os parâmetros atuais de mercado (alta vacância e aluguel pressionado) tornam o retrofit para multifamily a escolha racional de investimento, especialmente em mercados pós-pandemia onde o uso tradicional perdeu tração.
E o que isso sinaliza para o Brasil?
Quatro direções claras:
Incentivo condicionado a impacto vai virar padrão. Políticas urbanas em cidades como São Paulo, Belo Horizonte ou Porto Alegre tendem a seguir caminhos semelhantes, trocando isenções por contrapartidas sociais mais específicas e estruturais. Como vemos no HIS, no Requalifica Centro, no Programa +4D, entre outros.
Oportunidade para explorar novos negócios. A combinação de vacância em edifícios comerciais e pressão por novas moradias acessíveis cria o terreno ideal para modelos de conversão (retrofit), operações multifamily com vocação social, novas soluções financeiras e produtos de nicho.
Há um mercado inexplorado entre o Minha Casa Minha Vida e a alta renda. O público de classe média está mal atendido. Falta crédito, falta produto, falta política, e sobra oportunidade.
Incorporadores devem preparar modelos que entreguem retorno + função social. Não será mais suficiente construir “o que vende” — será necessário pensar em quem se está vendendo, e com qual papel no tecido urbano.
EMBEDED FINANCE
Embedded Finance: A Nova Fronteira de Lucro no mercado imobiliário
Você já percebeu como os serviços financeiros estão se integrando cada vez mais na jornada dos softwares da sua empresa?
O embedded finance é exatamente isso: o dinheiro e as soluções financeiras deixando de ser um "destino" e se tornando parte da sua jornada. Isso significa que, em vez de ir ao banco, você acessa crédito, seguros e pagamentos diretamente das plataformas que já usa no trabalho.
Essa mudança é estrutural e silenciosa, transformando sistemas de gestão (ERPs), CRMs e marketplaces em canais financeiros poderosos.
Gestão de Recebíveis: Empresas como a CUB otimizam a carteira de loteadoras, já conectadas a esteiras de crédito.
Crédito para Construtoras: O Sienge Capital, um dos principais sistemas de gestão, já oferece crédito para sua base de clientes.
Antecipação de Comissões: A Pipeimob e outros CRMs já estruturam fundos para antecipar comissões de corretores.
Não Apenas o Software Vira Banco...
A revolução é bidirecional! Não são só os softwares que incorporam serviços financeiros. As Fintechs como a Makasí (crédito estruturado para obras) e a Paggo (conta digital com múltiplos serviços) estão criando softwares próprios como canais de acesso, mostrando que soluções financeiras estão se integrando ao core operacional, e vice-versa.
Sua Construtora Deveria Prestar Atenção
“Se você está em um banquete, mas não está sentado à mesa, é porque você está sendo servido.”
Sua obra que movimenta R$ 50 milhões em contratações, com centenas de fornecedores e milhares de pedidos de compra; pode gerar milhões em receitas financeiras, mas você não está participando disso.
A sua construtora está no centro desse fluxo de operações, pagamentos e recebimentos. Em vez de apenas observar, você pode ser um protagonista! É possível estruturar e operar sua própria engrenagem de crédito para fornecedores, prestadores de serviço e até corretores.
Isso significa:
Menor pressão sobre o capital próprio.
Maior poder de barganha com fornecedores.
Melhor previsibilidade da obra.
Captura de margens financeiras reais ao se tornar um distribuidor ou originador de crédito em seu ecossistema.
Não se trata de virar um banco, mas sim de fazer o capital circular com fluidez no seu modelo de negócio. Quem tem fluxo, tem o pote de ouro!
Quer saber mais como o playbook de embedded finance pode destravar negócios e oportunidades? Confira o Radar Pro dessa semana.
CO-OWNERSHIP
Vivla capta US$ 8M com tese de fractional ownership para casas de luxo
A espanhola Vivla acaba de captar €8 milhões para escalar seu modelo de co-propriedade de casas de luxo. Em vez de vender um imóvel inteiro por €2 milhões, a startup o divide em 8 cotas de €250 mil cada, oferecendo ao comprador semanas de uso, gestão integrada e possibilidade de revenda — tudo com menos atrito, mais liquidez e alta percepção de valor.
A proposta resolve uma ineficiência clássica: 90% das casas de veraneio na Europa ficam ociosas por mais de 10 meses por ano. A lógica "melhor ter 1/8 de algo incrível do que 100% de algo que não uso" começa a ganhar força.
Co-propriedade premium como alternativa de funding, eficiência e desejo
O modelo da Vivla ecoa um movimento global que segue em ascensão.
A Fractal Homes (UK) levantou US$30 milhões para permitir que compradores adquiram frações de imóveis urbanos de alto padrão, com foco em eficiência fiscal e patrimonial.
A francesa Prello captou €13 milhões estruturando uma plataforma que combina tecnologia e gestão integrada para compartilhamento de casas de veraneio.
Já a americana Bonus Homes opera com um modelo de equity sharing, permitindo que compradores acessem parte do valor de uma casa principal sem adquiri-la por completo — liberando capital e reduzindo o custo de entrada. Em comum, todas buscam destravar valor de imóveis subutilizados, oferecendo acesso fracionado com liquidez e serviço.
No início do mês falamos sobre o movimento de Vacation Homes 2.0 nesse artigo e como a Pacaso se tornou o expoente dessa tese nos EUA.

Talvez a verdadeira força por trás da tese de co-propriedade não esteja apenas na inovação do modelo, mas na realidade econômica que se impõe.
Com o encarecimento contínuo dos imóveis — puxado por custos de construção, escassez de terrenos bem localizados e crédito mais caro — a posse integral tende a se tornar um luxo restrito.
Nesse cenário, modelos que diluem o custo de entrada, aumentam o uso do ativo e oferecem liquidez podem deixar de ser uma alternativa… para se tornarem o novo normal.
A provocação é simples:
E se o imóvel compartilhado for o único economicamente viável daqui pra frente?
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