
ABERTURA
Existe um momento exato em que uma tecnologia deixa de ser uma aposta de "inovação" para se tornar infraestrutura básica.
Na construção civil – setor historicamente resistente à digitalização – esse ponto de inflexão está acontecendo agora.
O que estamos assistindo é uma adoção massiva e sistêmica ("wall-to-wall") por quem controla os maiores orçamentos do mercado.
A dúvida deixou de ser "se" a tecnologia vai escalar, e passou a ser quem conseguirá reorganizar seus processos e talentos rápido o suficiente para não operar em desvantagem.
Hoje, conectamos esses quatro movimentos que, isolados, parecem notícias dispersas, mas juntos confirmam essa mudança de era.
Além disso, exploramos onde nascerão os próximos "unicórnios" de IA do setor segundo a Bessemer e questionamos um dos maiores dogmas do mercado financeiro: o Skin in the Game.
Na edição de hoje:
🏗️ A era operacional da IA: 4 sinais de que a tecnologia virou infraestrutura básica no canteiro.
🦄 Onde nascerão os próximos unicórnios da construção? As 5 teses da Bessemer Venture Partners.
💰 Skin in the Game: por que colocar dinheiro demais no negócio pode, na verdade, atrapalhar a performance.
#1
A Construção Civil Entrou na Era Operacional da IA
Nas últimas semanas, a inteligência artificial passou de tendência a protagonista no setor da construção civil.
1. A maior construtora dos EUA adotou IA em toda a operação
A Turner Construction, maior empreiteira dos Estados Unidos em receita, firmou um acordo de dois anos com a OpenAI para disponibilizar o ChatGPT Enterprise a todos os seus colaboradores.
A expressão usada pela companhia — “wall to wall, floor to ceiling” — deixa claro: trata-se de uma adoção massiva, não de projetos-piloto.
A empresa já utilizava IA em drones autônomos, análise de imagens e assistentes de campo. Agora, criou uma rede interna de “AI champions”, promove hackathons e desenvolveu mais de 100 agentes personalizados em um único evento. A aposta é total.
2. A startup britânica que conhece 750 mil cronogramas
Enquanto a Turner executa, a britânica nPlan quer prever.
Com uma base de 750 mil cronogramas históricos de obras, a startup levantou £11.9 milhões em uma rodada Série B para expandir o uso de IA na modelagem e simulação de projetos.
Seu sistema transforma escopos em cronogramas detalhados e prevê gargalos com base em dados reais. A proposta é clara: trocar feeling por evidência.

3. A maior plataforma de software para obras lançou IA como camada nativa
A Procore Technologies, líder global em gestão de obras, anunciou uma nova geração de funcionalidades baseadas em IA.
De um assistente conversacional contextualizado (Procore Assist) à geração de relatórios via análise de fotos, passando pelo Agent Builder — que permite a qualquer usuário criar agentes personalizados com linguagem natural, sem precisar programar.
É IA no canteiro, via celular, em múltiplos idiomas. Com promessa de padronização, automação e insights acionáveis.
4. A redução de cargos de entrada: um efeito colateral nada trivial
Segundo pesquisa da Korn Ferry, 37% das empresas planejam substituir cargos de entrada por soluções baseadas em IA.

No setor da construção, isso atinge funções como aprendizes, estagiários e assistentes de campo — historicamente essenciais para formar lideranças técnicas.
Mas o relatório também alerta para uma nova camada dessa transformação:
Mais da metade dos líderes (52%) planeja incorporar agentes autônomos às equipes em 2026, com muitos já criando perfis para eles em sistemas de RH. A dificuldade? Fazer com que humanos e agentes colaborem efetivamente.
Apesar da onda tecnológica, habilidades humanas como pensamento crítico são prioridade nº 1 para 73% dos líderes — enquanto skills de IA aparecem apenas em quinto lugar. Saber interpretar, ajustar e até contestar as recomendações da IA virou competência estratégica.
Apenas 11% dos executivos se sentem preparados para liderar essa transição. Isso abre espaço para que líderes de aquisição de talentos assumam um papel mais estratégico dentro das organizações.
A consequência é clara: uma mudança no pipeline de talentos e no tipo de competências exigidas em campo. Menos operadores manuais, mais supervisores de IA.
A IA no coração da construção
Esses quatro movimentos seguem caminhos distintos — investimento, produto, cultura organizacional, estrutura de pessoas — mas apontam na mesma direção: a IA deixou de ser ferramenta acessória e passou a integrar o core da construção.
A Turner mostra que é possível aplicar IA em escala na execução.
A nPlan indica que o planejamento pode ser orientado por milhões de horas reais de projetos anteriores.
A Procore transforma IA em infraestrutura digital para o campo.
A pesquisa da Korn Ferry revela que essa mudança já está afetando a base de talentos do setor.
O impacto? Uma transformação profunda na forma como obras são planejadas, monitoradas e entregues.
E uma necessidade urgente de adaptação em toda a cadeia — incorporadores, empreiteiros, fornecedores e investidores terão de repensar práticas, contratos e composição de equipes.
#2
Onde a IA vai criar os próximos unicórnios da construção?
A Bessemer Venture Partners não é uma espectadora. Com mais de US$ 20 bilhões sob gestão e cases como LinkedIn e Procore no portfólio, ela é uma das vozes mais influentes do venture capital global.
Por isso, quando eles publicam um roadmap sobre como a IA deve remodelar o setor, o mercado presta atenção.
A tese central é: a construção é o “território perfeito” para a IA multimodal.
Nenhum outro setor da economia lida com tanta informação desconexa simultaneamente: desenhos 2D, modelos 3D, vídeos de drone, relatórios de campo e planilhas financeiras.
Até hoje, o software tradicional falhou em integrar isso. A aposta da Bessemer é que a IA será a primeira tecnologia capaz de reduzir essa entropia operacional.
O fundo mapeou cinco teses específicas onde acredita que nascerão os próximos gigantes do setor.
São áreas que vão desde a geração automática de projetos até uma mudança radical na coordenação de campo – que pode, inclusive, colocar em xeque a hegemonia do BIM.
Na edição desta semana do Radar Pro, detalhamos cada uma das 5 apostas da Bessemer e discutimos os desafios reais de implementação para cada uma delas.
Clique aqui para ler a análise completa
#3
Skin in the Game: E se o dinheiro for a métrica errada?
No mercado financeiro, "Skin in the Game" virou dogma.
Popularizado por Taleb e Buffett, o conceito estabeleceu uma regra clara: só confie em quem tem o próprio capital em risco.
Mas será que estamos aplicando essa lógica da forma certa?

A intuição diz que quanto mais dinheiro o gestor ou fundador coloca, melhor. Os dados mostram o contrário.
Um estudo recente analisando mais de 1.500 fundos de Venture Capital descobriu que existe um "ponto ótimo" de exposição.
Aumentar o compromisso do gestor funciona até certo limite. Passou disso, o efeito se inverte e a performance cai.
O excesso de exposição gera loss aversion – o medo de perder paralisa a tomada de risco saudável.
Então, qual é a porcentagem mágica onde o skin in the game deixa de ajudar e passa a atrapalhar? E quais são as perguntas que revelam o verdadeiro risco, muito além do cheque assinado?
No Investor Track dessa semana, comentamos os estudos e mostramos como identificar o comprometimento real – aquele que não aparece na planilha, mas define o sucesso do negócio.
Clique aqui para ler a análise completa
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